17/09/2010
A Sessão Averroes realizada na noite da quinta-feira (16), que integra as atividades do 3º Ciclo de Cinema e Reflexão Aprender a Viver, Aprender a Morrer, exibiu o documentário "Com o Passar do Tempo", produzido pela BBC de Londres. A médica especialista em Geriatria e Gerontologia Angélica Yamaguchi, mediadora da Mesa de Reflexão que se seguiu ao filme, destacou a importância do enfoque sobre o envelhecimento não se restringir aos aspectos biológicos, mas abranger a forma como este se insere na sociedade. O filme aborda ambos aspectos, a partir das experiências de vida de um casal americano de terceira idade.
A inserção no meio sociocultural está intrinsecamente ligada à maneira como cada pessoa lida com as mudanças que ocorrem no envelhecimento, observa Andréa Viude, fonoaudióloga e professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (USP Leste). Ela ressalta o amplo conceito de família do casal protagonista, que extravasa os laços sanguíneos e abrange a comunidade, fato que lhes proporciona a companhia de outras pessoas que vivenciam o processo de envelhecer. “As redes [sociais] são tecidas ao longo da vida das pessoas e formam uma teia de amigos muito importante para definir a maneira como encaramos nosso envelhecimento”.
Marcel Hiratsuka, Médico Assistente do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da FMUSP e coordenador do Projeto CEDPES - Centro de Desenvolvimento para a Promoção do Envelhecimento Saudável, considera o mais importante nessa idade a capacidade da pessoa se adaptar às situações, flexibilidade denominada 'resiliência' no campo médico.Andréa Viude destaca a capacidade do casal em fazer planos para o futuro e se aventurar em ambientes diversos, com pessoas de outras faixas etárias. Essa capacidade é reflexo de um amadurecimento pessoal vivenciado ao longo da vida.
O fato deste casal estar inserido ativamente na sociedade colabora com o aprendizado do envelhecimento como uma fase importante da vida que precede a morte, observa Hiratsuka. O pesquisador destaca uma cena emblemática do filme, onde o casal retorna, de forma simbólica, aos lugares da juventude, período em que ambos estavam no “auge” de suas vidas. Eles fazem uma visita ao colégio em que estudaram e relembram as cenas de um baile em que se eles se conheceram e passaram a namorar.
O prédio do então colégio estava em ruínas, mas o fato é que eles chegam à conclusão de que, apesar de mais velhos, estão hoje em condições muito melhores - social e financeiramente falando - do que estavam naquela época. A cena ilustra que nem sempre o envelhecimento é um sinal de declínio. “Em termos fisiológicos, o que acontece durante o envelhecimento é a diminuição da reserva funcional, que ocasiona menor resistência ao stress físico e mental”, conclui o médico.
A mídia oscila entre extremos no tratamento da imagem do idoso, que costumava ser tratado, em especial por algumas peças publicitárias, como ocioso, surdo, esquecido ou chato. A partir de 1º de janeiro de 2004, entrou em vigor no Brasil o Estatuto do Idoso (Lei Federal nº 10.741/03) que não permite depreciar a imagem das pessoas mais velhas.
Hoje, o idoso é mostrado como uma pessoa muito ativa, que pratica esportes e está sempre de bem com a vida, imagem que nem sempre condiz com a realidade. Para Andréa, a mídia melhorou o enfoque ao sensibilizar as pessoas a entenderem as informações relacionadas ao envelhecimento, mas lembra que é preciso compreender a heterogeneidade da sociedade brasileira, inclusive na velhice, para trabalhar essa questão de forma mais realista: “O envelhecimento é singular, se refere à biografia e aos enfrentamentos de cada pessoa”.
Depoimento em vídeo da palestrante e mediadora Angélica Yamaguchi
Depoimento em vídeo da palestrante Andréa Viude
Depoimento em vídeo do palestrante Marcel Hiratsuka
3º CICLO DE CINEMA E REFLEXÃO APRENDER A VIVER, APRENDER A MORRER
Cobertura completa do Ciclo
Na foto, da esquerda para a direita: Angélica Yamaguchi, Andréa Viude e Marcel Hiratsuka |