21/05/2010
"O CARDEAL E O REPÓRTER" - histórias que fazem História, do jornalista Ricardo Carvalho, tem lançamento marcado para o próximo dia 25 de maio, terça-feira, das 18h30 às 21h30, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.
De 1977 a 1984, o Cardeal dom Paulo Evaristo Arns e o repórter Ricardo Carvalho foram descobrindo fatos que viraram reportagens. Reportagens que se transformaram em marcos de resistência durante a ditadura militar. Neste livro, Ricardo narra os bastidores destas reportagens. As emoções, ameaças, medos e esta incrível sensação de se sentir protagonista involuntário de tanta coisa importante.
Serviço
LANÇAMENTO DO LIVRO
"O CARDEAL E O REPÓRTER" - histórias que fazem História, de Ricardo Carvalho
Dia 25 de Maio, terça-feira, das 18h30 às 21h30, na Livraria Cultura - Conjunto Nacional
Um pouco das muitas histórias do livro
- O preso político que, felizmente, benzia no manicômio de Franco da Rocha
A série de reportagens, que saiu na Folha de S. Paulo", nasceu da coragem do professor José de Souza Martins de denunciar publicamente o fato, em 1978. Os bastidores dessa reportagem sobre o líder messiânico Aparecido Galdino Jacinto são de tirar o fôlego. Só a intervenção de Dom Paulo permitiu tirar Galdino do manicômio.
- Será que enganar um bispo, mesmo só um pouquinho, é pecado?
O encontro dos bispos brasileiros, em Itaici, em 1977, discutia o mais importante documento da Igreja sobre as relações com a política, em plena ditadura militar: "Exigências Cristãs de uma Ordem Política". Só Deus sabe como os repórteres que participavam da cobertura diária da Assembléia conseguiram tirar o documento do encontro...
- O alter ego do cardeal que não resistiu e entregou a lista dos desaparecidos
Foi um furo de reportagem publicar na grande imprensa ("Folha") a primeira lista de desaparecidos brasileiros. A lista, entregue em conta-gotas, fazia parte da correspondência confidencial de dom Paulo ao presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter. Só que o que aconteceu na noite da publicação da matéria na "Folha" é simplesmente inacreditável.
- Bispos em Puebla, México. A Folha arrasando na cobertura (e o editor-chefe falando em chamar os repórteres de volta)
O apoio de Dom Paulo para a cobertura do encontro de bispos da América Latina foi fundamental. E foi também preciso usar muita imaginação, com a ajuda de um frade dominicano, para contar ao mundo o que estava sendo discutido, em segredo, na assembléia dos bispos. Desta maneira, a cobertura da "Folha" foi muito, mas muito diferente dos outros jornais...
- Anatole e Vicky. A vitória do amor, da solidariedade e do bom senso.
Encontrar as primeiras crianças da América Latina filhas de militantes políticos, que foram sequestradas pelas forças de segurança e entregues para adoção, levou o repórter a pedir asilo na catedral de Montevideu. Ah, se não fosse o motorista do cardeal uruguaio...
Foi Dom Paulo, em pessoa, que passou essa pauta. A reportagem saiu na Isto É.
- O pau come na Penha; Claudio Abramo deixa a “Folha”
De repente, o grito: "O povo, unido, jamais será vencido", que logo se espalhou pela massa. Foi assim que a animação que tomou conta das pessoas transformou uma simples caminhada na primeira passeata de protesto da década de 70, fora das hostes estudantis.
O Dops também teve esta, vamos dizer, percepção. Enquanto isto, na redação da "Folha"...
- “Quem avisou ao senhor do atentado ao Somoza?”, me perguntou o diretor do DOPS
Em um minuto eu estava ao lado do Marcão, o meu cinegrafista, com o caixão do Somoza bem na nossa frente e, do outro lado, a viúva, de preto e chorosa. Olhamos um para o outro, o Marcão armou a câmera, contornamos o caixão e fizemos uma longa entrevista com a senhora. Já no Brasil, o diretor de Dops parece que não gostou muito do furo...
- Um Prêmio Nobel da Paz quase esquartejado...
A cena que se formou foi um estranho cabo de guerra: eu e o Zé Gregori puxando o Perez Esquivel, prêmio Nobel da Paz daquele ano, por um braço, quatro agentes federais puxando pelo outro, fotógrafos registrando a cena e eu gritando: "Para com isto.... os jornais do mundo inteiro vão dizer que o Brasil prendeu o prêmio Nobel da Paz... vai ser uma vergonha!!!". Antes que circulasse a notícia “Prêmio Nobel da Paz é esquartejado no Brasil”, interrompemos o cabo de guerra para negociar...
- Uma jovem mulher em busca do marido desparecido
Encontrar, ao lado de Suzana Lisboa, o primeiro corpo de um desaparecido brasileiro, Luis Tejera Lisboa, enterrado no cemitério de Perus, ao lado da capital paulista, mereceu capa da revista “Isto É”. A pauta partiu da Comissão Arquidiocesana de Direitos Humanos, sob o comando de Dom Paulo.
- Dom Paulo e Clarice Herzog, a emoção do reencontro
Sem contar a enorme emoção de ver Dom Paulo e Clarice Herzog juntos outra vez, depois de muitos e muitos anos. Clarice foi, com o filho Ivo, convidar Dom Paulo para participar do Instituto Vladimir Herzog e eu, como repórter, registrei tudo com o meu olhar, o olhar da câmera e uma certa irreverência, talvez própria da profissão.
- "Estou preparando a minha passagem", diz dom Paulo, na nossa despedida.
Alguns comentários sobre o livro
Frei Betto
(...) O autor logrou desafiar riscos e dificuldades, como ameaças e censuras, criando uma rede que lhe permitiu trazer à tona o que o regime militar insistia em manter oculto.
Carlos Guilherme Motta
(...) Ricardo foi o primeiro repórter a publicar, na imprensa, na própria Folha, em 31 março de 1978, uma lista de 23 desaparecidos brasileiros (...) que dom Paulo enviara em correspondência secreta ao presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter.
Zé Gregori
(...)Ricardão foi dessa geração de jornalistas: primeiro lugar a notícia; depois o coração. Ótimo se coincidissem; mas senão, não tinha mão invisível acrescentando “coisas.
Mariana Kotscho
(...) Ao mesmo tempo, tenho certeza que a reportagem vai sempre existir e que tem muita gente boa por aí seguindo os caminhos do Ricardinho (Kotscho) e do Ricardão (Carvalho).
Alexandre Gambirásio
(...) O consolo era a convivência com um grande jornalista (Cláudio Abramo) e o trabalhar no dia-a-dia com repórteres e redatores apaixonados, que se empenhavam generosamente no combate pela liberdade. Entre eles, o corajoso Ricardo Carvalho, autor deste livro, protagonista ele também de episódios importantes na resistência à ditadura.
Woile Guimarães
(...) A ordem era avançar sempre um pouco, ganhar as migalhas de liberdade que apareciam. Foi uma luta dura, que se travava em várias frentes, com repórteres como o Ricardão, passando pelo editores e chegando lá na Alice-Maria e Armando Nogueira, que sofriam no final do corredor polonês.
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