28/11/2008
Quem passa pela Rua Rubi número 50, no bairro da Aclimação, em São Paulo, não sabe que por trás daquele portão de ferro, pintado de branco e verde, está um cenário digno dos tempos coloniais. É o Museu do Raful, um velho casarão de mais de 80 anos que guarda os ares de uma São Paulo antiga, de antes da energia elétrica. Foi nesse espaço que na última segunda-feira (24), aconteceu o concerto “Noite de Luzes”, apresentado pelo Coral Luther King.
Pelas ruelas e fachadas antigas, o espetáculo seguia como uma procissão. O público era convidado a seguir o roteiro das apresentações, carregando suas taças de vinho e suas banquetas para melhor se acomodar.
Iluminado por velas, tochas e lamparinas, o espetáculo foi um presente de fim de ano aos amigos e convidados do Hospital Premier, da Teúba Arquitetura e Urbanismo e da OBORÉ. A idéia era promover uma noite especial, cuidadosamente preparada pelo maestro ítalo-brasileiro Martinho Lutero. Um retrato musical do caldeirão cultural brasileiro a partir de três grandes matrizes culturais - a indígena, a africana e a européia.
O Museu foi fundado pelo ex-mascate de descendência líbano-italiana, Raful de Raful. Comerciante e colecionador, ele construiu réplicas em tamanho natural de prédios antigos de São Paulo e reuniu, ao longo de décadas, cerca de quatro mil peças, todas catalogadas por Carmelina Lembo Sultani, marchand e atual diretora e curadora do Museu. Coincidência ou não, na mesma noite, se ainda estivesse vivo, Raful completaria 96 anos de idade.
No local, os convidados puderam apreciar réplicas de casas de moradia, cadeia, Paço Municipal e igrejas com santos e imagens de época, além de uma autêntica senzala construída em 1875 na Bahia (de onde foi desmontada e trazida para São Paulo).
Além da regência do maestro Martinho Lutero, os 60 cantores do coro interpretaram 15 obras de autores como Caríssimi, Bach, Haendel, Flecha, Ramirez, Lacerda, Valente e Lopes-Graça. Todas as obras remetiam a períodos anteriores à chegada da luz elétrica na cidade de São Paulo – temática do próprio Raful.
O concerto fez também uma homenagem a cantora e compositora sul-africana Miriam Makeba, símbolo internacional de luta pelos direitos humanos e contra a segregação racial, falecida no último dia 9 de novembro, aos 76 anos. Para isso, o espetáculo contou com a bela participação da cantora Fabiana Cozza, que interpretou cantos africanos e afro-brasileiros. Uma verdadeira viagem às nossas raízes.
Maestro Martinho Lutero e Fabiana Cozza.
Confira todas as fotos da noite.
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