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  Vozes da cidade: projeto forma jovens comunicadores comunitários

  12/05/2008

Depois de seis meses chegou ao fim mais um módulo do projeto Correspondentes da Cidadania. Dessa vez, apenas 16 alunos, dos 30 que iniciaram, concluíram o curso que vem sendo realizado com a comunidade de Heliópolis. Apesar da desistência de quase metade do grupo, o saldo é positivo, como avalia uma das coordenadoras e idealizadoras do projeto Cicília Peruzzo. “Os ganhos foram enormes para todos. Os 16 que terminaram o curso são alunos interessados, que apresentaram um crescimento muito grande durante todo esse processo. Acho que o curso mexeu com eles e que vamos ter a continuidade deste trabalho através do engajamento desses meninos e meninas na rádio comunitária de Heliópolis.”

A partir de agora, esses jovens terão um espaço garantido na programação da Rádio Heliópolis. Meia-hora de notícias e informes sobre educação. A idéia é que eles contribuam para a melhoria permanente da comunicação local, além de experimentar em suas escolas várias formas de comunicação, como jornal mural, panfletos, programas para a rádio da escola. “Esses meninos e meninas são muito importantes para Heliópolis. Eles estarão presentes na elaboração do jornal, do site, das entrevistas e matérias da nossa rádio comunitária”, diz Geronino Barbosa, diretor de comunicação da União de Núcleos, Associações e Sociedades dos Moradores de Heliópolis e São João Clímaco (UNAS).

Para os estudantes que estiveram no encontro para a entrega dos certificados, participar do projeto significou superação. Alessandra dos Santos Marques, aluna da Escola Municipal de Ensino Fundamental Campos Salles, conta que venceu a timidez e que pretende usar o que aprendeu para ajudar a conscientizar a comunidade. “Com o curso eu aprendi a soltar a voz, a conversar mais com as pessoas. Vi que tudo que eu aprendi aqui vale também para minha escola, para minha comunidade. Agora é colocar em prática tudo isso”, diz. 

José de Jesus Oliveira, o mais velho dos novos correspondentes da cidadania, enfrentou a dupla jornada, entre as manhãs de estudo e tardes de trabalho para ajudar a família, e concluiu o curso. Numa fala animada e até um pouco emocionada o jovem estudante da escola Campos Salles conta o mudou para depois do curso. “A palavra importante é pouco para dizer o quanto esse curso significou para mim. Melhorou meu desenvolvimento pessoal, social, profissional. Além dos conhecimentos de cultura e arte. Deixou aquela vontade de conhecer e participar mais ainda as coisas.”

A professora Eliana Penella acompanhou todo esse processo de descobertas e aprendizado bem de perto. Docente da escola Campos Salles, ela participou durante todos os sábados do curso junto com os alunos. Para ela, todos cresceram muito nesse período. “O desempenho na escola, o interesse. Tudo melhorou. Eles tiveram chance de ampliar o conhecimento. Conheceram museus, rádios, a própria cidade de São Paulo, com as visitas ao centro. Isso significou muito porque eles sempre ficaram voltados para a vida aqui dentro de Heliópolis. Então, o curso ampliou horizontes. Além do contato com a rádio Heliópolis. Agora, quem tiver interesse vai poder colaborar na rádio com as notícias da escola, trazendo informações sobre o que acontece lá dentro.”

O projeto nasceu em 2007 e já está na sua segunda edição, ambas realizadas com a comunidade de Heliópolis. Depois de atuar com os formadores de opinião da rádio comunitária local, o projeto Correspondentes da Cidadania focou os estudantes. Articulou a associação de moradores, escolas municipais e estaduais da comunidade e outros parceiros para levar aos alunos o conceito do “bairro educador”, onde que a escola deve articular o ensino com a realidade local. Durante 16 sábados, alunos das escolas públicas de Heliópolis participaram de atividades que vão desde aulas de texto a excursões pela cidade. “Tudo para melhorar a comunicação do bairro”, afirma o jornalista Sergio Gomes, diretor da OBORÉ e idealizador do projeto juntamente com Cicilia Peruzzo, professora da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), coordenadora do Comuni – Núcleo de Pesquisa em Comunicação Comunitária da UMESP e uma das maiores autoridades no campo da comunicação comunitária e local.

A metodologia desenvolvida pela Coordenação Pedagógica do curso é baseada em aulas de texto e linguagem jornalística, além das excursões para colocar em prática o novo olhar a que são submetidos. Os conteúdos trabalhados, segundo Cicília, estão mais voltados para melhorar o jornalismo comunitário, mas não ficam presos a isso. “Vários assuntos entram na pauta: rádio comunitária, suas linguagens, formatos de programas, sustentabilidade. Além disso, provocamos a conscientização sobre a realidade e sobre os direitos do morador de uma ‘cidade educadora’ e colocamos o estudante em contato com universidades e outras instituições histórico-culturais”, conta. “Creio que o curso contribuiu e continuará contribuindo para melhorar a atuação da emissora, pois se trata de uma arena de discussão, de troca e de agregação de novos conhecimentos”, complementa.

Vinícius Furuie, estudante de Jornalismo na ECA-USP e membro do Projeto Redigir, também integra a coordenação do Correspondentes da Cidadania. Ele conta que os participantes do curso, apesar das diferentes idades - uma vez que são meninos e meninas que freqüentam os ensinos fundamental e médio –, formam um grupo muito bom e aplicado. “São alunos muito bem preparados. Então, nosso trabalho é dar mais uma ferramenta para que eles possam trabalhar a comunicação do bairro. Mas, mais do que isso, para mim, pessoalmente, é um momento muito importante para o fortalecimento das rádios comunitárias.”

Exemplo disso foi a última conquista da rádio comunitária de Heliópolis. Após 16 anos de luta, no dia 12 de março deste ano, o governo federal outorgou a autorização da União de Moradores de Heliópolis a executar, pelo prazo de dez anos, serviço de radiodifusão comunitária. Isso significa que o governo federal deu seu aval para funcionamento da rádio, mas ainda é preciso, para a legalização definitiva e início das transmissões, passar pela aprovação do Congresso Nacional. O legislativo tem até meados de junho para analisar o assunto. Se ultrapassar esse prazo, a rádio receberá uma outorga provisória e poderá entrar no ar sem medo de retaliações. Se a mobilização da comunidade der certo, esses jovens da Cidade do Sol (Heliópolis, em grego), em breve poderão aplicar o que aprenderam no curso na primeira rádio comunitária de São Paulo a ter autorização para veicular seus programas.

Enquanto a concessão da rádio não sai, os estudantes encontraram outra forma para utilizar o que aprenderam durante o curso: a internet. Com ajuda dos membros do projeto Redigir, os novos correspondentes da cidadania criaram dois blogs (Comunidade em Ação e o Helipa Informa) para divulgar ações em Heliópolis e informar a comunidade sobre o que acontece por lá. A expectativa é que os moradores da comunidade tenham acesso ao blog, opinem, mandem notícias e deixem seus recados.

A idéia é que este projeto-protótipo, como foi denominado, seja a base para a implementação de um curso compacto de formação para futuros comunicadores comunitários. 

Este módulo do projeto teve a realização do Comuni – Núcleo de Pesquisa em Comunicação Comunitária da Universidade Metodista; Escola Estadual Manuela Lacerda Vergueiro; Escola Estadual Prof. Ataliba de Oliveira; Escola Municipal de Ensino Fundamental Campos Salles; Escola Municipal de Ensino Fundamental Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior; Instituto Itaú Cultural; OBORÉ Projetos Especiais; Projeto Redigir da ECA-USP; Rádio Comunitária Heliópolis; União de Núcleos, Associações e Sociedades dos Moradores de Heliópolis e São João Clímaco (UNAS).

Contou ainda com parceiros que acreditam na importância dessa proposta. São eles: Associação Brasileira de Imprensa – Representação em São Paulo (ABI); Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji); Associação Mundial de Rádios Comunitárias – Escritório Paulista (Amarc); Cala-Boca Já Morreu; Cátedra Unesco de Comunicação; Central Brasileira de Notícias (CBN); Departamento de Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes da USP; Gens Projetos Educacionais; Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão em Políticas Públicas e Sociais (IPFD); Intervozes – Coletivo Brasileiro de Comunicação Social; Lan House Evolution; MASP; Museu Anchieta/Pateo do Collegio; Ponto de Cultura Vila Buarque; SINPRO/SP; TV USP.

Como tudo começou...
A proposta nasceu atendendo a uma necessidade da equipe da Rádio Heliópolis nos meses em que a emissora esteve fechada – de julho de 2006 a agosto de 2007. (Leia mais em Polícia Federal e Anatel fecham rádio Heliópolis). Nesse período, as lideranças expressaram o interesse em promover cursos e oficinas para as pessoas que atuavam na rádio e interessados em participar da comunicação do bairro, visando também aumentar o número de engajados no projeto. 

Neste contexto, a OBORÉ e o Comuni - Núcleo de Estudos de Comunicação Comunitária e Local, vinculado à Universidade Metodista, se comprometeram, então, a oferecer um curso de capacitação.

Mas melhorar apenas a comunicação do bairro não era suficiente. Era preciso ainda contribuir para o desenvolvimento da consciência política da comunidade. Com esse foco, o projeto Correspondentes da Cidadania retomou um alerta de 1992, quando o jornal sindical Sol e Alegria (editado pela OBORÉ e coordenado pelo Fórum das Entidades Sindicais Mantenedoras de Colônias de Férias na Praia Grande, SP) elaborou uma série de matérias que mostravam o desconhecimento da população com relação à aplicação do dinheiro dos impostos que pagavam, em especial do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), presente em todas as compras feitas pelo cidadão brasileiro. 

As reportagens mostravam, por exemplo, que as universidades públicas paulistas – USP, Unicamp e UNESP – recebiam cerca de 10% do total arrecadado com o ICMS, mas a população não sabia disso. De acordo com cálculos realizados por Sérgio Gomes – baseados na renda mensal da população e na porcentagem do ICMS –, só as 30 mil famílias da comunidade de Heliópolis, “investem” anualmente na USP, sem saber, cerca de US$ 1 milhão. Com base nesse número, os coordenadores do projeto promoveram uma visita à Universidade de São Paulo para que os participantes do curso vissem na prática para onde vai uma parte do dinheiro dos produtos comprados por eles. “É preciso que as pessoas entendam que o dinheiro investido nas universidades públicas paulistas, sai do imposto embutido no feijão, no açúcar, no leite. Não cai do céu. Nossa preocupação é revelar isso para que as pessoas tenham mais consciência política e saibam onde está sendo investido o dinheiro de seus impostos”, explica Gomes.

Cidade do Sol visita a Cidade Universitária foi uma das primeiras atividades do curso Correspondentes da Cidadania, em 2007. Esse módulo foi realizado com os profissionais da rádio comunitária de Heliópolis e alguns estudantes. Lá, eles conheceram as dependências da USP e viram a série de serviços e cursos gratuitos que a universidade oferece à população. Entenderam que não é só por meio dos cursos de graduação que eles podem estar lá dentro.

Mas a excursão não tinha como meta apenas o passeio pela USP. Os comunicadores de Heliópolis levaram também uma proposta para a rádio da universidade. A idéia era simples: iniciar uma campanha simultânea de conscientização e combate a sonegação fiscal, pois quanto menos sonegação e corrupção mais recursos iriam para a Universidade de São Paulo. O material não tomaria muito tempo na programação das rádios, pois era um pacote de vinhetas que havia sido produzido pela OBORÉ sobre a relação entre a arrecadação do ICMS e o aumento de recursos para as universidades públicas estaduais de São Paulo. O pacto foi feito, mas até hoje, a Rádio USP não cumpriu sua parte.

Acordos a parte, a excursão foi um sucesso. Os comunicadores de Heliópolis conheceram a infra-estrutura do campus universitário, o universo das pesquisas acadêmicas realizadas pelas diversas faculdades voltadas para realidades como a de Heliópolis – desde os estudos da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) sobre habitação popular até as investigações sobre rádios comunitárias desenvolvidas pela Poli (Escola Politécnica) e ECA (Escola de Comunicações e Artes) – e exercitaram o papel de cidadãos.

De acordo com Geronino Barbosa, diretor de comunicação da União de Núcleos, Associações e Sociedades dos Moradores de Heliópolis e São João Clímaco (UNAS), o curso surtiu efeito e os responsáveis pela rádio comunitária que participaram da primeira edição do projeto estão pondo em prática o que aprenderam. “Hoje eles têm mais consciência de que precisam ir atrás da notícia para informar a comunidade. Tem mais qualidade o que veiculamos”, conta Barbosa. 

O primeiro módulo curso aconteceu de 14 de abril a 28 de julho de 2007. Veja abaixo quem participou dessa primeira etapa.

Veja quem participou do primeiro módulo do curso Correspondentes da Cidadania (2007)
 
Veja quem participou do segundo módulo do curso Correspondentes da Cidadania (2008)

Galeria de fotos

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