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  Estudantes de jornalismo acompanham lançamento de América Minada

  26/09/2007

O professor Cláudio Júlio Tognolli lembra o epíteto de uma das principais empreitadas teóricas sobre o jornalismo em situações de conflito: “Numa guerra, a primeira vítima é a verdade”. The First Casualty, de Phillip Knightley, acompanhado por Diante da dor dos outros, de Susan Sontag, era a indicação de leitura do professor aos quase 90 estudantes que pleitearam as vinte vagas do novo módulo do Projeto Repórter do Futuro na manhã de sábado, dia 22. Os nomes dos selecionados devem ser publicados amanhã, dia 27 de setembro, no site da OBORÉ.

O encontro de seleção, que aconteceu no Instituto dos Arquitetos do Brasil em São Paulo, começou com uma exposição de Vinicius Souza, o fotógrafo e documentarista que divide com Maria Eugênia Sá, a autoria do documentário América Minada, lançado no mesmo evento. Rodolfo Blancato, estudante do segundo ano de jornalismo da ECA-USP, conta que se surpreendeu com o teor do documentário: “Eu não imaginava que existia mina nenhuma na América Latina. Nenhuminha”. Os 27 minutos do vídeo-documentário produzido pelo TV Brasil Canal Integración foram suficientes para aguçar a curiosidade e aquecer as idéias dos jovens repórteres sobre um dos principais problemas que cercam a situações de conflito.

O primeiro contato do casal com a realidade das minas terrestres foi na realização em 2004 do projeto Caxemira: Ocupada, dividida, disputada, quando encontraram toda a fronteira do Paquistão minada. Este trabalho desfaz alguns mitos sobre o conflito na Caxemira (inclusive a meia-verdade que desconsidera a influência da China, além de Índia e Paquistão, na ocupação da região). Já em Angola, A esperança de um povo uma conversa com os Médicos Sem Fronteiras havia apontado a condição latino-americana em relação às minas antipessoal e munições não-detonadas, mas foi Colômbia: Que guerra civil? que colocou o casal propriamente a par da questão.

A Colômbia é o terceiro país entre os com maior número de vítimas de minas terrestres e, segundo Vinicius, o aumento é uma tendência. Lá, aproximadamente 80% das mortes por armas de fogo não tem a ver com guerrilha ou tráfico – o que normalmente povoa o noticiário sobre o país. Isso porque o próprio conflito interno em que o país se encontra condiciona que sejam plantadas novas minas mesmo após o desminamento das regiões. O documentário revela ainda que, para alguns dos grupos armados colombianos, as minas são praticamente soldados (com a diferença de que não precisam de comida). O país é signatário do Tratado de Banimento de Minas, assinado há dez anos na Convenção de Ottawa e que pretendia “pôr um fim no sofrimento e nas fatalidades causadas pelas minas terrestres antipessoal” nos 122 Estados-partes. Na Colômbia, no Peru e até mesmo na Argentina isto ainda não se fez.

América Minada não sensacionaliza com imagens, mas sensibiliza para um problema real. Vinicius lembra que as minas, armas de ação indiscriminada, violam uma das regras do Direito Internacional Humanitário (tema deste Módulo do PR do Futuro), o princípio de distinção entre os atores do conflito e quem não tem a ver com ele - com as minas, os civis deixam de sofrer danos supérfluos para se tornarem alvos inconscientes. Um dos depoimentos revela, com sutileza, o grave despojamento de valores humanos que as minas e os efeitos de sua ação instituem para homens, crianças, mulheres e soldados: “Nós somos pessoas que valemos algo. Não há porque tirarem-nos as coisas que Deus deixou para nos sustentar”, isto é, seus próprios corpos.

Cientes da nudez e do trauma, da ausência de segurança vital engendrados pelas minas, os estudantes acompanharam a exposição de João Paulo Charleaux, assessor de comunicação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (interventor neutro e independente nos conflitos), lembrando do papel dos jornalistas em relação a estas crises humanitárias. Segundo o jornalista Sérgio Buarque de Gusmão, coordenador pedagógico do curso, este módulo, se não servir para a melhoria da cobertura “de guerra”, deve assegurar pelo menos a leitura rigorosa dela. Charleaux confirma, lembrando os problemas conceituais com a cobertura da violência nos centros urbanos brasileiros: “Se a imprensa, que é responsável por fazer a interpretação crítica dos fatos, adota como critério a situação de guerra, que tem um padrão de aceitação de violência bastante amplo, cria-se uma sensação de liberdade para os agentes”. O módulo oferecerá ferramentas para que pelo menos 20 estudantes nadem contra a corrente generalista e, como indica Charleaux, “transcendam a questão sensacional”.

 
 
 
   
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