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  Rádio Heliópolis volta ao ar!

  25/08/2007

Rádio Heliópolis volta ao ar!

Fechada pela justiça e órgãos reguladores do setor desde 20 de julho de 2006, a Rádio Heliópolis voltou a transmitir sua programação no último dia 11 de agosto. A reabertura da rádio foi marcada por um evento comemorativo na Quadra das Unas que começou às 10h e se estendeu por toda a tarde do sábado.

Habilitada, por enquanto, para atuar apenas em caráter experimental, o retorno da emissora para as ondas do rádio só foi possível graças a uma parceria entre UNAS e Universidade Metodista de São Paulo ( UMESP), com o apoio da OBORÉ e de inúmeros parceiros da Rádio.

No evento foram entregues os diplomas do curso  "Correspondentes da Cidadania", coordenado  pela OBORÉ e pelo COMUNI - Núcleo de Comunicação Comunitária e Local / UMESP, que capacitou os atuais locutores e jovens da comunidade de Heliópolis na área de locução, reportagem e linguagem radiofônica, técnicas de entrevista entre outras oficinas direcionadas à comunicação comunitária.
 
Mesmo em sua nova freqüência - 87.7 FM, a Rádio Heliópolis continua atuando em fase experimental no canal 199, exigência do Ministério das Comunicações e da Anatel até que sejam definidos os critérios de autorização expressos no aviso de habilitação de rádios comunitárias no município de São Paulo.
 
Confira abaixo a reportagem de Gabriel Kwak, com a colaboração de Lucas Krauss, sobre a reabertura da Rádio Heliópolis:  

Rádio Heliópolis, a volta por cima


Vinte de julho de 2006, dez e quarenta da manhã. Seis agentes da ANATEL e da Polícia Federal apreenderam uma mesa de som, dois microfones, uma CPU, um gerador de estéreo e um transmissor da Rádio Heliópolis, mantida pela UNAS (União de Núcleos,  Associações e Sociedades de Moradores de Heliópolis e São João Clímaco). O ímpeto da diligência policial não lem
brou o estouro de uma boca de fumo, como aconteceu com outras rádios comunitárias, mas fez com que presidente da UNAS, João Miranda, respondesse a processo criminal. O desfecho na Justiça do processo contra João Miranda teve recentemente uma vitória significativa. Decisão da Turma Recursal dos Juizados Especiais Criminais do Tribunal Regional Federal da 3ª Região entendeu que manter rádio comunitária sem licença não é crime, é apenas um ilícito administrativo, passível de multa.


A favela de Heliópolis, o  maior conglomerado urbano da cidade de São
Paulo, tem um milhão de metros quadrados e 125 mil  habitantes. Se o fechamento da rádio, em 20 de julho de 2006, foi marcado por lágrimas de tristeza e decepção, sua reabertura no último sábado, 11 de agosto de 2007, foi lavada por lágrimas de alegria. 

“Nós estamos aqui para registrar que o nosso povo sabe se organizar sim e que estamos nos educando para saber exatamente onde queremos chegar. É uma outra educação que está acontecendo protagonizada pelo povo brasileiro”, festeja Grácia Lopes, do Gens e Cala-Boca Já Morreu. "Agora a rádio voltou com todo o gás. Agora que ela rea briu, ninguém fecha. Nem se o Lula vier aqui, ele não fecha, porque a rádio é da comunidade. A comunidade vai lutar por ela, nem que a gente tenha que ficar em volta da rádio, enfrentar a Polícia Federal de cara", avisa Elvis do Nascimento, de 17 anos, morador de Heliópolis e colaborador da rádio.
  

Na festa de reabertura da rádio, na quadra poliesportiva da comunidade, também se comemorou a entrega dos diplomas do 1º Curso “Correspondentes da Cidadania”, promovido pela UNAS e Rádio Heliópolis e coordenado pelo  COMUNI – Núcleo de Comunicação Comunitária e Local da Universidade Metodista de São Paulo e pela OBORÉ, do qual participaram os atuais locutores e também os futuros repórteres comunitários da emissora.

  

Os 32 “correspondentes da Cidadania” receberam seus diplomas das mãos de Geronino Barbosa, o Gerô, diretor da UNAS e coordenador da Rádio Heliópolis; da professora Cicilia Peruzzo , coordenadora do COMUNI e responsável pela coordenação do curso juntamente com o jornalista Sergio Gomes, da OBORÉ; do jornalista Audálio Dantas, vice-presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa); do radialista Marcus Aurélio Carvalho, da Rádio Globo; da advogada Anna Cláudia Vazzoler, do Escritório Modelo Dom Paulo Evaristo Arns (PUC-SP); do engenheiro Arlindo Jr., consultor em telecomunicações; da professora Ruth Amaral, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (uma espécie de madrinha da comunidade, que engajou-se desde os anos 80 na urbanização da localidade e é, inclusive, nome de rua por lá), e da educadora Grácia Lopes, diretora do Gens e uma das idealizadoras do Projeto Cala-Boca Já Morreu.


A capacitação desenvolvida no Curso “Correspondentes da Cidadania” vai permitir que a emissora incremente sua programação jornalística. Os alunos aprenderam como elaborar uma notícia, como fazer uma entrevista, como fazer uma locução, como trabalhar em equipe, entre outras técnicas. Uma dos dias mais memoráveis do curso foi a visita ao campus da Universidade de São
Paulo, dia 14 de a bril de 2007, onde o grupo pode travar contato com as diversas unidades de ensino instaladas na Cidade Universitária.


Os novos “repórteres da cidadania” saíram em passeata pelas ruas da favela carregando uma grande faixa com os dizeres “Mexeu com uma, mexeu com todas” e repetindo as palavras de ordem “Rádio Heliópolis” e “Tentaram nos calar? Mas não conseguiram não!” A faixa foi estendida na nova sede da rádio, na Rua da Paraíba, 76, cuja pintura e limpeza foram asseguradas por um mutirão de moradores da comunidade.
 

Nas primeiras gravações no estúdio, Claudinha Neves, locutora da rádio, se comoveu ao relem br ar o sofrimento que foi o fechamento da emissora e não deixou de se contagiar pela alegria dos presentes: ''Para essas pessoas que diziam que a rádio nunca mais ia pro ar, estamos aqui, no ar, graças a Deus. E agora eu convido também a Polícia Federal a vir aqui para conhecer os nossos novos estúdios, o nosso trabalho, o pessoal do Ministério das Comunicações, da ANATEL para virem no meu programa de novo, o ‘Frequência do Sucesso’, e agora eu vou entrevistá-los".


Durante mais de um ano em que a rádio ficou fora do ar, os que vivenciavam o seu dia-a-dia não ficaram de
br aços cruzados. “A gente sentiu aquela falta. A gente estava há 14 anos no ar. Mas nós não desistimos não, mesmo com o estúdio fechado”, diz Liberalino dos Santos, coordenador de programação da rádio. “A rádio nunca ficou parada. A gente gravava vinhetas num CD e informava a comunidade através de um alto-falante numa bicicleta. A gente informava a data da reabertura, a nova freqüência, os seminários na UNAS, a balada black que a gente fazia, os cursos, essas coisas. Gastava menos do que fazer panfletos. Como o povo não gosta muito de ler, então o alto-falante da bicicleta funcionava”, relata Claudinha Neves.


A reestréia da rádio também contou com uma presença ilustre: o mascote da rádio, um cão spring spaniel chamado Laerte II, guardião da antena e do transmissor da rádio.
Outra notícia auspiciosa foi o anúncio da construção de um painel de azulejos em Heliópolis idealizado pelo artista plástico Ênio Squeff, um mural com grafitagem alusivo à importância do rádio e da comunicação humana. “Podemos fazer uma alegoria em torno dessa idéia da comunicação a distância, da voz, que chega a quilômetros de distância. O Padre Landell de Moura é, literalmente, o inventor do rádio. Heliópolis pode ter a primazia de cumprir essa verdade histórica: de que foi o Padre Landell de Moura quem inventou o rádio. Estou comprometido com a comunidade e, a qualquer momento, eu baixo aqui com as tintas e os pincéis”, prometeu Squeff.


*  *  *


No momento em que a Rádio Heliópolis era visitada pela ANATEL e Polícia Federal (20 de julho de 2006), o jornalista Sergio Gomes, diretor da OBORÉ e coordenador do escritório paulista da AMARC - Associação Mundial das Rádios Comunitárias, fazia uma palestra no GENS Serviços Educacionais e foi surpreendido pela notícia de que a Rádio tinha sido lacrada por ordem judicial. “Naquele momento, o Gerô já estava a caminho da Polícia Federal. A gente já tinha marcado um grande ato na quadra da UNAS contra o fechamento e a favor da liberdade de todos. Quando chegamos para o ato, já havia uma solução”, conta Sergio. 

O pessoal da OBORÉ, com apoio de muita gente, passou a disparar telefonemas mobilizando uma série de apoios para juntar forças e  solucionar o problema. Formou-se então uma rede de contatos a favor da comunidade de Heliópolis, que há mais de sete anos estava na fila esperando a autorização de funcionamento do Ministério das Comunicações. A saída técnica encontrada e proposta pela ANATEL foi um convênio com uma universidade – no caso, a Universidade Metodista de São Bernardo do Campo - para operar no canal 199 (87,7 MHZ, freqüência especialmente designada pela ANATEL) “para fins científicos e experimentais”.


Premiada pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) em 2003, a Rádio Heliópolis, antes do seu fatídico fechamento,  transmitia semanalmente o programa “Saúde nas Ondas do Rádio” em que profissionais do posto médico municipal explicavam as doenças sexualmente transmissíveis e chegou a ter, por exemplo, um programa de MPB da jornalista e atual vereadora Soninha. Anunciava documentos perdidos de moradores e revelou vários talentos da comunidade, como o cantor
Pedro Vieira, cujo CD era muito tocado no programa “Freqüência do Sucesso”, um dos mais queridos da localidade. Além de craque no gogó, Vieira também é dono de uma mercearia em Heliópolis onde se lê o letreiro: “Senhores Clientes, não vendemos mais fiado. Por favor, não insistir.”


A atuação de Heliópolis é reconhecida pelo presidente da República e pelo ministro Gilberto Gil, que vivem elogiando o trabalho social da emissora. No ano passado,  a rádio foi qualificada  como “Ponto de Cultura” pelo Ministério da Cultura. 

Reportagem e redação: Ga briel Kwak e Lucas Krauss



Leia mais

- O fechamento da Rádio Heliópolis

- Operar rádio comunitária não é crime 
http://www.obore.com.br/admin/acontece_form.asp?cd=1203

 
 
 
   
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