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02/08/2007
Sábado próximo, 4 de agosto, o grupo de estudantes que participou do Projeto "Descobrir a Amazônia, descobrir-se repórter" - que aconteceu de 9 a 14 de julho deste ano - volta a se reunir para avaliar os resultados da viagem e as perspectivas que se criaram a partir dela. O encontro, que acontece na sede da Oboré, das 10h às 12h, será seguido de um piquenique de confraternização nos Céus da Avenida Buarque (Terraço do Edifício Copan).
Em 9 de julho, uma comitiva de 20 civis partiu de São Paulo rumo a Manaus chefiada pelo Coronel Sappi e acompanhada pelos oficiais Tenente-Coronel Douglas e Capitão Cristina Joras, da Seção de Relações Públicas do CCOMSEx (Centro de Comunicação Social do Exército Brasileiro).
Os estudantes de jornalismo participantes - alunos da Escola de Comunicação e Artes da USP, da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Faculdade Cásper Líbero - foram escolhidos entre os participantes do Módulo Direitos dos Povos Indígenas do Projeto Repórter do Futuro, promovido pela Oboré. A visita, contudo, não se resumiu ao debate da questão indígena, ainda que o assunto quase não saísse de cena nas conversas formais e informais. Entre palestras e relatos (de esposas de oficiais até soldados, passando por lideranças indígenas e generais), registraram-se mais de 10 horas em vídeo por uma equipe composta por profissionais da TV USP, da TV Mackenzie, Canal Universitário e TV Assembléia. Vale destacar que o cineasta Gustavo Brandão, da Ludo Filmes, está preparando um documentário sobre a viagem.
Na noite de chegada a Manaus, a recepção da comitiva foi garantida por um jantar em que, além de autoridades militares, esteve presente o Arcebispo do Ordinariado Militar do Brasil, Dom Osvino José Both. Às palestras da semana, o grupo respondia com perguntas que algumas vezes cessavam - outras, se estendiam por horas a fio, invadindo os horários de almoço, jantar e até sono. Polemizaram-se posturas em relação ao direito indígena a terras, os problemas sócio-econômicos que afligem as comunidades e também as ações (oficiais ou não) de salvaguarda dos patrimônios culturais destas populações nas áreas de atuação do Exército. A própria inserção dos índios nas tropas chamou atenção dos estudantes, emocionando e gestando questionamentos.
Charles Nizs, que cursa o 3º ano de jornalismo na ECA-USP, chama atenção à visita a uma das duas comunidades da nação ianomâmi na região de Maturacá. "Materializou-se para nós aquilo que só tínhamos visto em termos teóricos ou em termos político-jurídicos. Além disso, a visita à Amazônia trouxe novas informações sobre a região e sobre o trabalho desenvolvido lá pelo Exército", conta Nizs. O grupo conheceu, entre outras coisas, o premiado trabalho da Seção de Educação à Distância do Colégio Militar de Manaus, que atende a filhos de militares estacionados na Amazônia e no Exterior. Em pelotões de fronteira, como o que o grupo visitou no sopé do Pico da Neblina, a comunidade civil também pode se servir do ensino, devido à precariedade e freqüente inexistência de políticas públicas em educação nestas regiões.
A fim de colocar na mesa expectativas e estratégias de produção jornalística para a semana de palestras e visitas, os professores, estudantes e profissionais de comunicação, já haviam se reunido antes do embarque, definindo a atuação de pequenas editorias. Pautas determinadas, possibilidades traçadas e contatos previamente feitos, o grupo teve que trabalhar com criatividade - para ir além do que era oferecido e aproveitar ao máximo o potencial jornalístico da viagem. Em São Gabriel da Cachoeira, o terceiro maior município em extensão territorial do país e o primeiro em população urbana indígena, choviam pautas. Lá eles passaram um dia e uma noite, e a visita à Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) e à Rádio Municipal da São Gabriel incrementaram as discussões. A partir do encontro do próximo sábado (04), devem se arquitetar as ações e a publicação do material colhido. As fotografias são inúmeras e serão sistematizadas em pelo menos uma exposição.
Essa viagem se insere em um movimento maior de reconhecimento da importância política da Amazônia no cenário nacional, a fim de que se desenhem efetivamente ações estatais de garantia de direitos básicos para as populações índias e não-índias da dita "selva". Atualmente, o Exército é praticamente o único braço do Estado brasileiro na região e esta condição avaliza, cada vez mais, e preocupantemente, medidas paliativas. Uma semana não foi suficiente para fazer com que os vinte assimilassem o grau de complexidade política, econômica e cultural da Amazônia. Entretanto, plantou sementes do que deve frutificar em, no mínimo, visadas e narrativas mais críticas, e menos exotistas, por parte de quem se prepara para exercer um papel social tão premente quanto o ofício de reportar. |
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