15/08/2006
OESP, 11/08/2006
Seção Cartas
Rádios comunitárias
A Rádio Comunitária de Heliópolis não é braço do Partido dos Trabalhadores, como afirma o editorial Rádios clandestinas (7/8, A3), levando seus leitores a informações manipuladas. A Rádio Heliópolis é reconhecida por diversos atores sociais, entre eles a Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), da qual recebeu o Prêmio Cidadania em 2002, a Coordenadoria Nacional de Combate às DST/aids, e por personalidades como Lobão, Leci Brandão, Jair Rodrigues, Gilberto Gil, Gilberto Dimenstein, Heródoto Barbeiro, Ruy Ohtake, a apresentadora da MTV Soninha e o vereador William Woo (PSDB-SP). A maior marca da rádio comunitária sempre foi e continuará sendo o seu pluralismo. Assim, na sua adolescência de 14 anos, já entrevistou em sua sede fechada o governador Geraldo Alckmin, atual candidato à Presidência da República, a então prefeita Marta Suplicy, o então prefeito José Serra e, três dias antes do ato arbitrário, o prefeito Gilberto Kassab, além de secretários do Município e do Estado das atuais gestões. Acreditamos que esta prática leva ao exercício da cidadania da comunidade de Heliópolis. Lembramos que a rádio foi matéria de capa do Estadão em reportagem de Marisa Folgado, que foi indicada aos Prêmios Vladimir Herzog e Shell de Reportagem Social do ano. O presidente Lula foi convidado a dar entrevista à rádio em 3 de outubro de 2005 e não aceitou sabendo que há um processo em curso para sua legalização no Ministério das Comunicações. Há rádios legalizadas no Brasil. Em nível municipal, existe legislação reconhecendo o papel das rádios comunitárias no exercício da cidadania. O editorial acredita que nós, moradores da favela, nos devemos manter no isolamento social. E, às avessas do ofício do jornalismo, não percebeu que existe um grande movimento pela democratização nos meios de comunicação e que a Operação Sintonia, da Polícia Federal, nada mais é que uma forma de criminalizar os movimentos sociais e de operar pelo oportunismo momentâneo.
JOSÉ GERALDO DE PAULA PINTO, secretário-geral,
e GERONINO BARBOSA, diretor de Comunicação da Unas
unass@uol.com.br
São Paulo
N. da R. - O editorial não afirmou que a Rádio Heliópolis é braço do PT. Disse, apenas, que muitas rádios comunitárias são criadas com objetivos políticos por parlamentares de diversas agremiações, principalmente o PT. Além disso, independentemente do apoio que a Rádio Heliópolis possa ter de setores “politicamente corretos” e das várias reportagens sobre seu funcionamento, inclusive as publicadas por este jornal, o fato é que ela não preenche os requisitos legais para poder funcionar. Por esse motivo é que seu fechamento foi determinado pela Justiça. Invocar o “isolamento social” como pretexto para justificar o descumprimento da ordem jurídica em vigor é uma atitude incompatível com o Estado de Direito.
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